O que é arrependimento? 1/2



[Parte 1]

Arrepender-se de algo implica sentir remorso por uma ação específica. Leva consigo não somente um assentimento intelectual, mas também uma resposta emocional. O sentimento mais frequentemente associado com o arrependimento é o de remorso, pesar e um senso de tristeza por haver agido de uma maneira específica. Logo, o arrependimento envolve tristeza por uma forma de comportamento anterior. 


[...] Os rituais judeus no Antigo testamento, que incluíam as práticas cultuais de jejuar, o dia do arrependimento, a mudança de vestes e canções de lamento. Com o passar do tempo, para muitas pessoas, estas práticas e rituais se degeneraram em mero ritualismo. [Por isso] grandes profetas, como Amós, Jeremias, Isaias e Oseias, se dirigiam ao povo para lembrar-lhes que Deus exige tristeza santa e piedosa, que em do coração. A questão crucial era esta: o povo era chamado a rasgar seu coração e não as vestes. Quando os profetas exortavam as pessoas desta maneira, não estavam se opondo à prática de rasgar as vestes, mas estavam dizendo que não basta alguém rasgar as vestes como um sinal de arrependimento; o coração precisa ser igualmente rasgado. Quando compreendermos que temos ofendido a Deus, devemos sentir esta ruptura de nossa alma. 

O conceito central de arrependimento no Antigo Testamento pode ser resumido em uma palavra: conversão. Esta palavra é ouvida frequentemente no linguajar que os cristãos usam hoje, sendo também o foco da chamada profética ao arrependimento. Para que alguém se torne cristão, tem de acontecer algo pelo que a pessoa é mudada radicalmente. Isto está ligado ao conceito bíblico de metanoia, a mudança de mente que não é meramente um assentimento intelectual de um conceito, mas a mudança de uma vida toda. [...] O arrependimento não é meramente um ritual religioso, é algo integral à conversão da alma. Significa uma mudança de todo o ser de uma pessoa.

Na vida de toda pessoa há um ponto de mudança, um momento crucial que define nossa existência. Pode ser encontrar determinada pessoa, conseguir um trabalho específico ou sofrer um desastre específico. Para a nação de Israel, esse ponto foi a sua fundação por parte de Deus. Deus outorgou ao povo sua identidade como seu povo escolhido, entrou em aliança com eles e lhes deu certos preceitos que deveriam ser seguidos. O povo fez juramento de que seguiria a Deus, de que obedeceria seus mandamentos e o amaria de todo o coração. Entretanto, vez após vez, a nação se afastou do Senhor, e, por isso, os profetas vieram à nação e disseram: “Vocês têm de converter-se e retornar para o Senhor”. 

Antes de o pecado entrar no mundo, houve um tempo quando toda a raça estava incorporada em nosso cabeça federal, Adão, que nos representava diante de Deus, gozava de obediência diante de Deus e de perfeita comunhão com ele. [...] Perdemos o paraíso quando nos afastamos de Deus e cada pessoa passou a seguir seu próprio caminho. Por isso, hoje , quando chamamos as pessoas à conversão, ainda é apropriado pensarmos na conversão em termos de “ir ao lar” – voltar para onde estávamos originalmente, na presença de Deus, em comunhão com Deus e em submissão a Deus. A chamada ao arrependimento é uma chamada a retornar, uma chamada a voltar para o lar.

A ideia de ser limpo está no âmago do conceito bíblico de arrependimento. Podemos ser tentados a pensar no arrependimento apenas em termos de perdão, mas o arrependimento também envolve limpeza. Somos corruptos e devemos ser purificados. Também podemos ser tentados a pensar no arrependimento como um acessório opcional à fé. Afinal de contas, a justificação é tão somente pela fé. Mas a justificação não exclui o arrependimento. O arrependimento não é um conceito irrelevante na Bíblia; antes, é central à conversão e à justificação. 

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Fonte: O Que é Arrependimento? | Série Questões Cruciais N° 17. Ed. Fiel, pp. 16-17; 21-22; 26; 36-37; 39-40
Autor: R.C. Sproul

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